quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“Tintas de amor”




 O veleiro atracou na minha enseada
Como um vento que pára sabendo-se chegado
Fiz a certeza, logo sobro do nada

Rio sem destino, sem leito nem brado…

Népia que fosse, saboreando tormentos
Com vozes traçadas, temporais alentos.


Ó mar, das angústias mais iradas

Que já não pensas, só corres em vão

Bates na terra pejos de balanças cansadas

Vertendo horizontes no meu coração…

Se em tela pinto, vozes de amor

No céu encontro tintas de dor.

***

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

“NO HORIZONTE DE MIM”





No horizonte de mim, contemplo lonjuras

Escolhas perdidas, fulgores da mocidade

Qual caminho vencido nas cores maduras

Marcado nos passos do vento com a idade

Quanto de mim, por mim fulgura

Sentindo no peito, o feito dessa loucura



No horizonte de mim, um sol do meio-dia

Numa fome de vida sobre um mastigar sombrio

Língua de vento por fora e por dentro lambia

O néctar, enfim, de um crepúsculo vazio

Aquando a voz se ergue nos ecos do destino

E me encontro criança, nos altos do caminho



No horizonte de mim, bem próximo de ti

Palavras para quê!

Ao chegar distante de todos os chegares

Pelos sons de todas as letras que conheci

Que não dizem corações, seus olhares

Pois que venho de longe, para longe, enfim

Bem perto que seja no horizonte de mim.

***

segunda-feira, 11 de abril de 2011

“BEIJO NA MADRUGADA”


A lua abriu o tormento
Beijando a orla do mar
Sibilo,
Risco de vento;
Grito de alento
Por contemplar

Turvava assim, crispação
Na prata que se estendia
Olhava o sim, acenava o não
Enquanto o brilho fugia

Gemia no coração
Como quem chama um ardor
Repincho de solidão
Retumbaria paixão, voz ou dor

Qual beijo não chegaria
Do peito jeito encantado
Que do sono venceria
Verdadeiro ou enganado

Lá tinia livremente
Chorando à descarada
Quando Aurora se viu gente
Para beijar a sua amada

Foi quando o sonho acordou
Na noite, ida, fechada
Que o desejo festejou
O beijo da madrugada.
***

“ALENTA DEMANDA”


Olhei a parede vazia
De melancólica, cor e calma
Tombei pela noite até ao dia
Mais amargo da minha Alma

Receios que em mim transitaram
Reflectiram tais momentos
- Vai-te embora.
- As vozes falaram
Ao horizonte, dos meus tormentos

Aos escombros, fui essa flor
Anteposta, entre meu sonho
Olhos e noite, varei o amor
Vencido, à madrugada do sono

E madrugou amargura
Apagando-se,
Sem dizer uma palavra
Aquela, ao alto perdura
Que assim, de tudo falava
- Espera…
De mim te procura
E, a esperança segura.
***


“PERPÉTUA INCUMBÊNCIA”


“PERPÉTUA INCUMBÊNCIA”

Devia amar-te para sempre
Possuindo a prova
De muitas outras coisas;
Devia amar-te,
Quando caminho em frente
Quanto?
Quando te abandono…

Não encontrei essa riqueza
Graças a uma melhor compreensão
Só o benefício da certeza
Pleno,
Daqueles que te encontrarão

Devia amar-te para sempre
A partir de agora
Quando, o jeito é demente

Amar-te, como?
Mostrando-te o descontente

Mergulhado no teu perfume,
Apaladado o desejo
Devia amar-te como costume
Amar-te
Pomada ao doce cortejo…

Sentiria que ainda não te encontrei
Entre as pétalas mais airosas
Nem das vozes que isentei
Sonhei
De ti
Aquela flor, das flores mais maravilhosas.
***

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

“Fundo de tempestade”

“Fundo de tempestade”
Que os olhos tivessem, sobrando correntes,
Separassem ventos em brandos de fantasia
Quando enxurradas, leitos e bocas descontentes
Mastiguem do tempo a orla de cada dia
Seria mais desaparecido de si, mais vontade
Não mais vento, mas fundo de tempestade.
***

“Saudade”

“Saudade
Bebi do teu servo, amores e solidão
Ardendo calmamente, chama soprada na vontade
Flamantes sem destino, soltas veredas de mansidão
Lamento de castelo, candeia de sumptuosidade…
- Mas é fogo de verdade
E transpira saudade.
***